Friday, October 27, 2006

Prémio AmadoraCartoon 05

Por: Osvaldo Macedo de Sousa

Este Prémio é uma simples homenagem a artistas, que pela sua carreira se têm destacado na arte do humor gráfico, da sátira. A selecção dos artistas faz-se não só pelo seu mérito, mas também pelo enquadramento, em cada ano, ao tema geral do Festival. Este ano o desafio lançado não foi fácil, e perante o titulo do tema geral, resolvi optar pela valorização do termo Periférico: Cartoon periférico, humor periférico… Mesmo assim esta conceito poderia ser encarado de diversas maneiras. Acabei por sobrevalorizar as técnicas periféricas.
Ao pensar na técnica do papel numa abordagem periférica pensei logo no chinês Hu Huai, que faz seus cartoons em papel recortado, como se fosse uma renda: Tentamos contacta-lo, porém nunca obtivemos resposta ao nosso convite.
A fotografia é outra técnica periférica do jornalismo gráfico-humoristico, principalmente na sua vertente de fotomontagem. Desde logo a escolha recaiu no grande mestre do humor absurdo, no esloveno Stane Jagodic, um cartoonista reconhecido em todo o mundo. Artista de múltiplas facetas, desde a escultura, o cartoon desenhado, o jornalismo, a pintura, as colagens… mas de todas essas artes quisemos apenas destacar as fotomontagens, esses poemas do absurdo, esses gritos de reflexão surrealista sobre a vida contemporânea.
Por tradição, e este ano, mais que nunca, Portugal também está representado por um artista periférico. Neste ponto a escolha foi fácil: José Carvalho, mais conhecido por Zé dos Alicates. Este artista nunca entrará nos anis do cartoonismo mundial, contudo é uma referência incontornável da caricatura repentista em Portugal e Galiza. Fruto periférico da tradição coimbrã da Caricatura, impõe-se pela sua originalidade de caricaturas. As suas linhas são feitas pelo arame que o alicate manuseia frente aos seus olhos, captando os perfis das vítimas.
Dois artistas originais, que nos dão perspectivas periféricas de como abordar o humor, o cartoon, dois artistas homenageados com o troféu do AmadoraCartoon 06.

STANE JAGODIC

Natural de Celje - Eslovénia (15/6/1943), formou-se naAcademia de Belas Artes da Universidade de Ljubljana.
Trabalha em diferentes campos da criatividade: pintura, design gráfico, caricatura, cartoon, colagem, fotografia, fotomontagem e jornalismo. É membro da ZDSLU (Federation of Slovene Fine Artist Societies) e da DOS (Society of Slovene Designers). Já foi membro do New York Cartoonists Writers Syndicate e do Board of Advisors do American Biographical Institute, Raleigh (USA), assim como colaborador da revista internacional "Graphic Design", Seoul (Coreia do Sul).
É o fundador da associação internacional de artistas "June Group" (1970 - 1985), assim como da "Slovene Triennial of satire and Humour, Aritas (1995 - 2001). Realizou cerca de meia centena de exposições individuais na Eslovénia e nos restantes países da ex-Jugoslávia, assim como na Áustria, França, Canadá, Portugal... Cerca de 230 exposições colectivas em cerca de três dezenas de países. Está representado em múltiplos livros sobre Design, Fotografia e Cartoonismo. Tem publicado diversos livros sobre a sua arte, destacando-se "Stane Jagodic" (Globus Zagreb 1989), "Stane Jagodic - Art Paradox" Ed. Dolenjska Zalozba 1993), and "Stane Jagodic - Orbis Artis" (2006).
Desde 1961 foi galardoado em 11 países com mais de quatro dezenas de prémios, nomeadamente vinte no campo do Cartoon e dez no da Fotomontagem. Em 2006 é homenageado no FIBDA com o Prémio AmadoraCartoon 06


JOSÉ CARVALHO (Zé dos Alicates)
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Natural da Póvoa de Varzim, onde nasceu na década de trinta, teve sempre uma vida inteira a trabalhar no arame... e sem rede. Foi educado numa instituição de gaiatos de origem de famílias desfavorecidas, onde aprendeu a arte de encadernador. Chegou a exercer esta profissão, assim como a de tipógrafo, mas em breve preferiu estabelecer-se por conta própria, andando de feira em feira ou vendendo para pequenas lojas, bonecos feitos de arame. Eram pequenas estatuetas de 15 a 20 cm, feitos de arame revestido de plástico colorido, enrolados em espiral (canudos que faziam o tronco, as pernas, os braços e demais elementos identificadores) representando figuras típicas como o pescador, o estudante, o barbeiro, a varina...
Desde muito cedo se radicou em terras de Coimbra, mais atreitas à aceitação de um artista boémio como ele. Estudantes que passaram por aquela cidade lembram-se de já ver esses bonecos na década de cinquenta em lojas de bric a brac.
Na década de sessenta anda por terras gaulesas a viver a vida, quando é surpreendido pelo Maio de 68, sendo uma das raras vítimas lusas dos confrontos policiais. Ao ser interceptado pela polícia com um saco cheio de fios eléctricos de várias cores, foi-lhe dada ordem de prisão como bombista. Só depois de muita conversa, muito charme e arte conseguiu finalmente convencer as autoridades que não passava de um artesão que vivia a vida no arame. Nunca teve um trabalho como operário naquelas terras, já que conseguiu sempre as autorizações de residência graças ás artes de seduzir o pessoal com bonecos, com charme.
Regressado a Coimbra, voltou a refugiar-se no seio "protector" da academia. Haverá então uma renovação na sua arte de escultor, deixando aos poucos os bonecos típicos, para se dedicar à arte de se desenvolver como uma das irreverências locais, o retrato-charge, ou mais comummente referido como caricatura repentista. Ao não saber dominar a arte do lápis e do papel, mas sendo mestre do alicate e do arame, tornou-se no primeiro (e que saibamos único) caricaturista de arame. A sua originalidade tem-se imposto como atracão turística na baixa coimbrã e nas animações para que tem sido convidado, não só em Portugal, como em Espanha. Foi um dos fundadores, com o Zé Oliveira, Eduardo Esteves e Orlando Noronha das "Festas da Caricatura" que desde os princípios da década de 90 têm animado e divulgado a arte da caricatura. A Amadora tem sido um dos locais que alberga uma dessas Festas, onde o Zé dos Alicates por diversas vezes esteve presente.
Por curiosidade, o Zé dos Alicates agora também é um herói da BD, ao ser integrado na história "A Falange do Silêncio" de Eduardo Esteves com edição da Câmara Municipal de Coimbra (Ed. 2006). Aqui surge como um pescador, um dos seus hobbies no rio Mondego. Em 2006 é homenageado no FIBDA com o Prémio AmadoraCartoon 06

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