Monday, November 20, 2006

Caricaturas Crónicas 18

AS MULHERES DE STUART Carvalhais
Por: Osvaldo Macedo de Sousa

Pertencendo a uma das duas metades da humanidade, a mulher nunca foi parte igual na sociedade que constitui com o homem, seja porque detém o poder matriarcal, seja porque é "sexo fraco". Fraca ou forte, "a mulher é uma equação que não sendo bem resolvida pode dar uma regra de três" (in “A Bomba”, 1946), donde resulta o macho sobreviver numa eterna obsessão.
Dos humoristas portugueses, quem melhor apreciou a mulher foi sem duvida o Stuart Carvalhais. Numa visão machista, como é a nossa sociedade, mas sempre com ternura, porque a olhou elegante e decorativa ao gosto do Barradas e do Soares, a retratou típica e popular como o Manuel Macedo, a desenhou pobre e miserável como grito da pobreza ou da sombra da noite, e a todas fez sensuais, esbeltas. Dizia um cronista que, desde que o Stuart morreu, as varinas perderam as suas pernas bonitas. Mas, "porque é que o Stuart desenha tão bem pernas? - Não vê a menina que eu vivi muito tempo... em Pernes?!" (Stuart Carvalhais, in “Sempre Fixe”, 20/4/1933).
Quem fala em mulheres fala também no amor, esse bater de corações que reduz o homem da sua posição de sexo forte, que o faz subjugar-se a elas, a rastejarem na sua trilha: "Estes rapazes de agora" "- Não tem mesmo habilidade nenhuma! Já me segue há duas horas, e ainda não me deu ocasião para chamar um polícia..." (Stuart, in “Sempre Fixe”, 30/3/1933).
Após a conquista seguia-se o namoro, que agora os costumes estão um tanto mudados - "A tua nova namorada é bonita? - Não sei... Pinta-se de tal maneira que ainda não lhe pude ver a cara." (Stuart, in “Sempre Fixe”, 7/4/1938).
Ditas sexo fraco, porque frágeis e sensíveis, de lágrima teatral fácil, são elas que orientam o jogo da conquista. Pela determinação do seu querer ou, pelo seu cuidado em evitar abrir as guardas da defesa, são elas que fingem deixar-se levar, só que nesse jogo nem sempre conseguem ter o adequado "timing" de resistência, ou ter sorte ao amor, e então suspiram - "Tantos malmequeres! Tantos hei-de procurar, que devo encontrar um que diga: Bem me quer!" (Stuart, in “Sempre Fixe”, 12/5/1932).
Após a conquista consumada e dados os louros ao macho triunfador, não é fácil à mulher conservar o seu homem, já que este é um animal pouco fiel, e ela de novo suspira (trejeito muito seu) - "Se ao menos ele enganasse as outras comigo!" (Stuart, in “S.F.”, 3/9/1930), ou "Pudesse eu também meter numa gaiola o meu amor..." (Stuart, in “S.F.”, 29/8/1929).
Chega-se então ao casamento: "Mamã! Por que motivo os noivos se dão as mãos quando se casam?" "- Pura cortesia! Também os jogadores de boxe apertam as mãos antes do combate!" (Stuart, in “S.F.”, 13/2/1930). Inicia-se desta forma a grande sequência de anedotas das sogras e demais guerras que não nos interessam para o caso. Apenas o ciúme, esse velho companheiro do amor que faz enfurecer o homem - "Não achas que as tuas saias estão muito curtas?" "- Não, filho, as saias estão bem, as pernas é que são muito compridas" (Stuart, in “Sempre Fixe”, 26/5/1927).
Os anos passam, e "os beijos aos 16 dão-se; aos 20 vendem-se, aos 40 compram-se" (Stuart, in “S.F.” 29/10/1930). A crueldade do tempo não perdoa - "porque é que é pecado perguntar a idade às senhoras?" "Porque as obriga a mentir." (Stuart, in “Sempre Fixe”, 12/11/1936). Só que as mulheres do Stuart são eternamente belas, mesmo as de vidas sofridas.
Também das mulheres da noite, ninguém até hoje soube dar um retrato com tanto carinho e amargura, porque as conhecia e amava, porque elas são a tábua perdida de homens que naufragam na solidão do macho, porque "chamam-nos perdidas, mas é connosco que se encontram."
A última das mulheres que o Stuart desenhou foi a 'Flausina' esse ser sintético, perdido entre o vazio mental dos homens e as formas sublimes da natureza, a falsidade da vida que acasalava magnificamente com o 'Baú-Bau' dandy.

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