Friday, June 08, 2007

A MULHER NO CARTOON

Por: Osvaldo Macedo de Sousa

Nos meus vinte e cinco anos de investigação e produção de eventos no humor gráfico, por diversas vezes fui confrontado com a questão de ausência de mulheres nos meus eventos, nos eventos dos outros ou na imprensa.
Mais de uma ocasião tentei organizar um Forum sobre a questão, fazer uma exposição... mas nunca tive apoios, já que é um tema sem "interesse". Essa oportunidade surgiu em 2001 no AmadoraCartoon, uma dos sub-componentes do Festival Internacional BD da Amadora.
Contactei mais de uma centena de mulheres cartoonistas dos cinco continentes (de 30 países), e só obtive respostas de duas dezenas e meia de artistas (de 9 países). Por outro lado, só foram contactadas mulheres triunfantes (das outras não temos registos nem contactos), quando 90% a 99% delas ficam pela intenção e sonho, sendo essas as que mais teriam para dizer das dificuldades e barreiras que lhes são impostas.
As Cartoonistas que me responderam foram: Anja Brand-Heemskerk (Netherlands), Antónia Toneva Beeroo (Bulgária), Catherine Doherty (Canada), Cesarina Silva (Portugal), Donna Barr (USA), Elena Steier (USA), Eve Miles (USA), Elizabeth W. Pankey (USA), Gerrie Hondius (Netherlands), Horacek (USA), Ioana Nikolova (Bulgária), Jan Eliot (USA), Joanne Applegate (Australia), Karen Fulk (USA), Martha Montoya (Colombia), Megan Kelso (USA), Nani (Adriana Mosquera) (Colombia), Neda Gougouchkova (Bulgária), Nezhna Filipova (Bulgária), Ourideia (USA), Raquel Orzuj (Uruguai) , Sepideh Anjomrooz (Irão), Signe Wilkinson (USA), Susan Kelso (Canada), Susan Moreno (USA), Trina Robbins (USA)


O CARTOONISMO É UMA PROFISSÃO DE HOMENS ?

"A tua abordagem é de facto terrível" ironisa Gerrie Hondius. Donna Barr satiriza: " Que pergunta peculiar ! Calculo que seja tanto uma profissão de homens como colocar tijolos ou cozinhar esparguete". Estamos ou não estamos no campo da irreverência? Todos sabemos que a mulher tem um cerebro e inteligencia igual ao do homem, que na criatividade não há diferença entre raças, géneros ou idades... não é preciso dizerem-me isso. Contudo a verdade é que quase não há mulheres nesta profissão.
Sei que parece uma questão sexista, mas quando olhamos para as Histórias da Caricatura / cartoon dos diferentes países raras são as vezes que encontramos nomes de mulheres. Porque não existem, porque são ignoradas ?
"A tua pergunta – escreve Tina Robbins - já é a resposta: é um campo dominado por homens, e como em todos os campos dominados por homens, estes não querem desistir do seu "clube só para rapazes". Olha para os Taliban como o exemplo mais extremo dum "clube só para rapazes" – eles sentem-se tão ameaçados de perder o seu poder se as mulheres chegarem à igualdade que puramente as impedem de ler, de ir à escola, de ter empregos, até de serem vistas em público."
"A caricatura não é uma profissão de homens - acrescenta Antonia Toneva Beroo - mas foi aceite como tal devido ao conteúdo ousado que algumas caricaturas têm que transmitir." "Pergunto-me sempre a mim própria: por que não existem mulheres cartoonistas famosas ? - escreve Nezhna Filipova - será que o apelo, escolhido para a mulher, de ser mãe e ser amável é mais forte e mais importante ? Quando eu faço os meus cartoons, não me sinto num mundo diferente, masculino, porque para mim os cartoons e a banda desenhada são um tipo de linguagem, uma forma de expressão, eu não acho que esta linguagem seja masculina ou feminina." Sepideh Anjomrooz considera: "Penso que o cartoon é como uma ponte de comunicação que nos aproxima, ultrapassa a fronteira geográfica. Nesta ponte nós falamos do que tem que ser e do que não há. Na minha opinião, o cartoon não é uma profissão para homens. Porque o cartoon tem as suas raízes no racional e não no sexual. Mas é verdade que o número de mulheres cartoonistas é menor que o dos homens. Não só no Irão, mas em todo o mundo. Tal não se deve à cultura mas sim, acho eu, à natureza da mulher que está mais focalizada na estética e nas emoções".
Contudo creio que as colombianas vão ao cerne da questão. Martha Montoya considera que "a família e a sociedade influenciam as raparigas a não seguir nessa direcção". Para Nani, "não existem profissões só para homens ou só para mulheres, tal como medicina que começou sendo exercida por homens e pouco a pouco as mulhere foram colonizando este campo, até converte-lo em algo habitual. O mesmo se passará com o cartonismo, pouco a pouco se integraran mais mulheres neste campo."
A presença da mulher como criativa no ambito do humor gráfico, é no fundo a história da luta pelos seus direitos de igual acesso a qualquer profissão, ao direito á opinião. Essa luta para ter espaço em todas as profissões não passa pela atribuição de quotas, como ironicamente os politicos ridicularizam a questão. Essa luta é apenas educacional, mas não deixa de ser uma guerra com colateralidades.


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